Skip navigation

escritos faíscas da Gisella Hiche minha companheira, descrição sensível das habitações em curso:

“Embalo os dias com Eliane Radique, Islas Resonantes, apresentada a mim pelos algoritmos do youtube, enquanto busco os sons/ambientes/ruídos próprios para trabalhar com texto, manter a concentração… mas são tempos intensos, muito acontecimento, informação, corpos e afetos, vidas que querem se encerrar e vidas em plena fertilidade exponencial- estamos instalados no meio disso, cuidando do fio ora fino, quase imperceptível e ora uma enxurrada na casa, na cidade, no mundo, atravessamos o oceano… estamos agora entre São Paulo e Madrid, com as paisagens marítimas e da mata atlântica instaladas, corpo índio, corpo caiçara, corpo quilombola, corpo urbano: respiramos na rua do crack, um buraco negro tão preciso em seu pedido de reparação, reparação de todo abuso repetitivo das colonizações, sobreposições, repulsa pela vida que não obedece às linhas inventadas no delírio identitário.

Os zumbis se arrastando ou gritando em louca incorporação pelas ruas são nossos aliados. O corpo paga um preço alto, mas não adere, não se submete. São arredios em sua descomunal força de não se dobrar. Inesperados pontos que se juntam: os craqueiros, os bebês, os pós-gêneros, os jovens negros, as mulheres… Uma língua política que não faz sentido e isso nos dói tanto pensar. Mas a vida não pensa e ela em nós sustenta tramas-nano extra-corpórea, caldeirão em meio ao fim do mundo, outros mundos.”